Viagens mais verdes: o ecoturismo está a ganhar asas

Viagens mais verdes:o ecoturismo está aganhar asas

Turismo e meio ambiente: desafios renovados e Turismo sustentável: contemplar a paisagem

Para além do mero fator de tendência, o ecoturismo ou turismo sustentável, é um vetor de valores que permite que os players do setor se destaquem e demonstrem seu compromisso, através de práticas ambientalmente corretas.

Não obstante os diversos termos utilizados para definir o turismo sustentável, existem várias novas formas de viajar:

> O turismo responsável baseia-se em três pilares: preservação da natureza, participação no desenvolvimento económico local e convivência com os locais.

> O turismo justo visa promover atividades turísticas locais, baseadas no comércio justo, para que os respetivos benefícios económicos sejam transmitidos às populações locais.

> O turismo solidário é a forma mais envolvente, na qual os viajantes colaboram com as populações locais em esforços de desenvolvimento.

> O turismo lento é um complemento ao movimento de slow living/vida devagar. É a arte de viajar com tempo, para recarregar baterias o mais próximo possível da natureza, preferencialmente em destinos próximos.

Onde ir, o que fazer

Que tal uma micro-aventura à beira-mar, uma ida à floresta para conhecer a fauna e a flora locais, ou uma imersão numa cidade serrana portuguesa? Estes são exemplos de escapadas que contribuem para o desenvolvimento económico, social e cultural das localidades visitadas. Para uma experiência completa e imersiva, pode combinar-se esses destinos com atividades ecologicamente corretas, como ciclismo, trekking ou canyoning, para criar memórias de viagens significativas baseadas nos seus valores.

Ecoturismo guru Ferdinand Martinet

Ferdinand Martinet é um aventureiro de coração. Fundou a Chilowé para introduzir novas formas de viajar, através de escapadelas enriquecedoras e com significado.

Como surgiu a ideia de lançar uma agência de viagens responsável?

O nome Chilowé – pronuncia-se “chill away” – é como um convite à fuga para a natureza. Começámos há quatro anos como um meio de comunicação. A nossa missão era inspirar a nossa comunidade a passar mais tempo na natureza, perto de casa, sem ter que sair para uma aventura maluca de três ou quatro semanas por todo o mundo.

Em termos da indústria de viagens ecológicas, quais as tendências que encontra?

A tendência que mais vejo é a necessidade de fugir com mais frequência, pois todos temos estilos de vida muito conectados. Há uma necessidade de se desconectar rápida e frequentemente. O conceito de microaventura – inserir curtas fugas nas nossas vidas hiper conectadas e sobrecarregadas de trabalho – torna-se assim uma solução interessante. Para algumas pessoas isso significa uma viagem mensal, enquanto que para outras pode ser todos os fins de semana. Trata-se de fazer as malas num curto interlúdio na natureza com um pouco de caminhadas ou ficar em estalagens incomuns, como um refúgio. E há também o aspeto comunitário, o desejo de viajar com outras pessoas que pensam como nós.

> Com a reabertura das fronteiras, pós-pandemia, a França está a colocar os seus comboios noturnos novamente em circulação. O que é que vê como próximo passo, talvez fora da França?

R: Viagens de bicicleta! Houve uma explosão na tendência bikepacking. As pessoas saem de casa por alguns dias e vão para outra cidade, outra região, outro destino. No final das contas, a jornada não é o destino, mas o caminho para chegar lá. Também há pessoas que vão de comboio com a bicicleta e regressam de bicicleta, ou apanham o comboio para andar de bicicleta por Itália, Suíça, Espanha. Acho que há uma tendência fundamental para andar de bicicleta, fazer caminhadas, fazer coisas apenas com as pernas. Há um espírito de peregrinação que está a tornar-se cada vez mais prevalente.

Como é que convence os viajantes a escolherem as viagens ecológicas em vez das tradicionais?

R: Eu acho que isso acontece por si só. O nosso trabalho é surfar a onda e seguir as aspirações da nossa comunidade. É preciso decifrar as tendências, as atividades que resultam e depois oferecer as coisas certas. Tentamos fazer duas coisas: primeiro, tentamos tornar as regiões de França tão sexy como as da Costa Rica e isso é um esforço de marketing. A segunda coisa é tornar a reserva o mais fácil possível. Fazer uma microaventura deve ser tão fácil como reservar um Airbnb em Barcelona. E foi o que fizemos: aceder ao site do Chilowé, inserir as datas, escolher uma microaventura, fazer a reserva e pronto.

Pensa estender a sua oferta a outros destinos europeus?

R: Já estamos! Estamos a oferecer microaventuras em Itália, Espanha, Suíça, Bélgica e, eventualmente, na Catalunha. Nós traçamos a linha nas viagens aéreas, essencialmente. Se puder chegar de carro, ou, idealmente, de comboio, nós temos oferta, porque há coisas magníficas para ver ali mesmo ao lado.

E o próximo passo seria criar a sua própria marca/selo?

R: A marca Chilowé está destinada a evoluir para um modelo de mercado, na qual as pessoas podem oferecer estadias na nossa plataforma. Vamos tentar aumentar o número de oportunidades para as escapadelas e viajar. Mas porque é que os guias, as pequenas agências ou organizações querem estar no Chilowé? Porque a nossa marca é descontraída, a comunidade de pessoas que se inscreve é descontraída e cool e os valores também.

Qual é a sua posição relativamente a viagens mais longas? Vê como o melhor compromisso entre viagens aéreas e responsabilidade ambiental?

R: O nosso objetivo consiste em aumentar as nossas ofertas para permacultura, agricultura, meditação e alimentação. A nossa ideia de micro aventura é ser local e perto de casa. Agora, se me perguntar, sim, a ideia é fugir com mais frequência, mas mais perto – e ir para o outro lado do mundo com menos frequência. Acho que é uma mistura entre viagens curtas duas ou três vezes por ano e uma viagem longa uma vez a cada dois anos.

Etiquetas de ecoturismo: selos de aprovação

Entre os muitos rótulos ecológicos que ajudam os viajantes a escolher as escapadelas mais responsáveis, destacam-se: o rótulo ecológico europeu, que designa destinos com menores impactos no meio ambiente e na saúde; os alojamentos Panda da WWF, que são construídos em áreas protegidas; e o selo Bandeira Azul, que premeia municípios e portos comprometidos com o turismo sustentável.

Para obter estes rótulos devem ser cumpridos critérios específicos, nomeadamente ao nível do consumo de energia no alojamento, da gestão de resíduos, da escolha de produtos de limpeza, etc. e é muitas vezes alcançado em menos de um ano: um estudo sobre os players do turismo sustentável mostrou que 79% dos turistas preferem empresas com um rótulo/certificação (Kantar x L’ADN, September 2021).

No futuro, podemos vislumbrar a criação de novos rótulos, como um rótulo ‘zona tranquila’ ou ‘100% sem écrans’, para satisfazer os viajantes que procuram relaxamento total.

Cabe à indústria do turismo ser criativa e ouvir os seus clientes para comercializar os rótulos que vão seduzir os futuros aficionados do turismo alternativo.

O bem-estar e o respeito pelo meio ambiente serão a base das viagens de amanhã: de escapadelas locais a viagens de longa distância, os profissionais do turismo podem recorrer a uma ampla paleta para se tornarem agentes da mudança e comprometerem-se com um tipo de turismo sustentável que se identifica com os valores de um número cada vez maior de viajantes.